Os 6 níveis de consciência

Lucas Favaro
6 min readMar 12

--

Passamos o dia inteiro ocupados, mergulhados em um turbilhão de afazeres, de modo que raramente nos damos conta de uma verdade profunda: existem graus de consciência. De fato, muitas pessoas vivem uma vida inteira e morrem sem se deparar com essa verdade.

Mas basta um simples exercício de auto-reflexão para percebê-la: você considera ter o mesmo grau de consciência nos momentos em que você está acordado e nos momentos em que você está dormindo? Se você responder “não” a essa pergunta, então você concorda comigo.

Com isso não quero dizer que exista uma “unidade de grandeza de consciência”, ou seja, que a consciência seja mensurável. Pode muito bem ser o caso de que ela seja uma magnitude ordinal, e não cardinal. E, mesmo que seja cardinal, pode ser que medi-lá seja inexequível. De qualquer forma, a mera percepção de que existem estados diferentes de consciência — e de que tais diferenças sejam tanto qualitativas quanto quantitativas — é algo que pode melhorar a sua vida.

Isso porque, com isso, você pode almejar estados superiores de consciência. Você pode treinar sua mente a buscar tais estados.

Para te ajudar nessa busca, vou neste texto elencar — com minha mania compulsiva de classificar tudo — aquilo que acredito serem os seis níveis mais bem definidos de consciência aos quais um ser humano pode almejar.

Ei-los:

1º nível: a quase total ausência de consciência

Tal nível ocorre em estados de coma, anestesia geral ou sono profundo (com ausência de sonhos). Se trata, basicamente, dos estados mais baixos de consciência que alguém pode atingir.

Na verdade, é até questionável se podemos chamar esses estados de “conscientes”. A única justificativa para fazê-lo é que um ser que atinge tais estados possui o potencial de voltar para estados mais elevados.

Caso a consciência de um ser se extingua quando ele morre, então esses estados mentais são os mais próximos daquilo que ocorre quando você morre.

Se você, leitor, já teve que passar por um procedimento cirúrgico que requereu anestesia geral de várias horas, por acaso você se lembra do que se passou na sua mente durante aquelas horas? Se a anestesia foi corretamente aplicada, então não se passou nada: o momento que você acordou da anestesia parece tão-somente uma continuação do momento que você “apagou”.

Agora, imagine que a sua mente após a morte seja igual a sua mente durante a anestesia: não é. Não existe mente, não existe consciência, não existe nada. Você apagou e nunca mais acordou — e você sequer existe para se sentir angustiado quanto a esse fato.

Mas chega de assunto triste que pode causar crise existencial. Vamos ao próximo nível…

2º nível: os sonhos

Não tenho nada a dizer aqui, então vamos ao próximo nível…

3º nível: a vida cotidiana

Como argumenta Sam Harris neste vídeo, a vida cotidiana não é tão diferente dos sonhos: a primeira se trata, apenas, de imaginação com restrições; enquanto sonhos são imaginações (quase) sem restrições.

Parece estranho pensar que a vida acordada é quase que uma continuação da sua vida dormindo, mas essa ideia deixa de ser tão estranha uma vez que você passa para o próximo nível…

4º nível: o mindfulness

Mediante treinamento (ou drogas) você consegue atingir um estado no qual você possui uma percepção mais acurada das coisas. Você passa a raciocinar melhor, se concentrar melhor e ter seus sentidos mais aguçados. Você passa a ter aquilo que se pode chamar de “atenção plena”, ou “mindfulness”.

O treinamento em questão é a meditação, que você pode começar a praticá-la a qualquer momento (existe uma tonelada de tutoriais e introduções a essa atividade na internet).

Mas não pense que, uma vez atingindo esse estado, você vai continuar nele para sempre. Na verdade, ele é extremamente fugaz. Você pode passar muito tempo tentando atingir o mindfulness sem sucesso, e quando atingi-lo, pode ser algo que dure muito pouco. Mas a própria efemeridade do mindfulness é algo que nos ensina sobre a impermanência das coisas.

Quando você passa a notar plenamente o mundo ao seu redor, você consegue perceber aquilo que eu disse antes: sua mente acordada fora do mindfulness não difere muito de sua mente dormindo. Em ambos os casos, você está preso aos seus pensamentos. Você é apenas um macaquinho sendo levado pela correnteza de pensamentos que calham de estar passando pela sua mente, sem que sequer você tenha noção de que está sendo levado pela correnteza. Durante o mindfulness você consegue, momentaneamente, perceber que “ah, isso aqui está passando pela minha mente agora. Ok, é nisso que minha mente está envolta neste momento”. Logo depois, você novamente se perde nos seus pensamentos, novamente sendo levado pela correnteza. Você volta a dormir (acordado).

5º nível: o “mindfulness profundo”

Esse é um termo que eu cunhei agora para poder denotar aquilo que acredito ser um nível acima do “mindfulness usual” e que requer uma maior atenção quando nos voltamos a esse tema. Trata-se de um nível de consciência somente alcançado mediante, pelo menos, meses de muitas horas diárias praticadas de meditação — ou, então, do uso de drogas psicodélicas no ambiente certo e na medida certa. Em essência, considerando apenas a prática meditativa para alcançá-lo, é um nível em que apenas monges e sérios frequentadores de retiros meditativos alcançam.

É nesse nível que você perde a noção de “self”. Seu ego é totalmente dissolvido. Sua mente está livre de qualquer preocupação e você sente uma compaixão incondicional por todos os seres conscientes. Mais: como você percebe que o “eu” não existe, então você percebe que o livre arbítrio é apenas uma concepção tola de mentes simiescas.

E, antes que perguntem: não, nunca cheguei nesse estado (mas ei de chegar um dia). Fiz a descrição acima baseado em relatos de pessoas que, acredito, chegaram em tal estado (como, por exemplo, o relato de Sam Harris em seu livro “Waking Up”).

6º nível: o nirvana

Aqui está o nível mais especulativo de todos. Se trata de um nível em que você deixa de pensar. Você não tem absolutamente nenhuma preocupação, pois nada se passa na sua mente. Você apenas está em um estado inerte de blissfulnes absoluta.

Será que é possível atingir tal estado? Não sei. Dizem que Buda o alcançou. Mas talvez esse estado seja apenas especulação e algo impossível de ser alcançado por seres com uma estrutura cerebral como a nossa— o que não quer dizer que seres com outras estruturas cerebrais não possam alcançá-lo.

Conclusão: 7º nível e além?

Não quis com esse texto dizer que existem apenas seis níveis de consciência. Só o que eu fiz foi uma classificação de níveis que eu acho serem bem definidos entre si, mas classificações mais nuançadas (com subníveis dentro desses níveis) poderiam ser feitas sem problema algum.

Por fim, uma especulação: será que o sexto nível é o último? Provavelmente não. Como diria Shakespeare, há mais coisas entre o Céu e a Terra do que pode imaginar nossa vã filosofia. Possivelmente existem estados mentais ainda mais maravilhosos, mais cheios de blissfulnes, que o nirvana.

Abaixo está a “escada da consciência” feita por Tim Urban em seu texto “Religion for the Nonreligious”, um dos textos mais maravilhosos que eu já encontrei na internet e que recomendo a leitura com todas as minhas forças. Nós, seres humanos, estamos ali no meio da escada, e não temos a menor noção de como é ter a consciência daquele ser verde no topo da escada (na verdade, essa escada é apenas um zoom de uma escada muito maior). Não sabemos o quão extraordinariamente ricos são os estados mentais daquele ser — assim como uma formiga não sabe o quão extraordinariamente ricos são os estados mentais de um ser humano.

Mas quem sabe um dia não descobriremos?

--

--

Lucas Favaro

Entusiasta do transumanismo, do altruísmo eficaz e do globalismo.